“Em Engenharia, as pontes são consideradas obras de arte e toda a obra de arte tem os seus autores.”
“Em Engenharia, as pontes são consideradas obras de arte e toda a obra de arte tem os seus autores.” Esta frase, do responsável do Itecons, resume perfeitamente todo o espírito presente na construção da 516 Arouca, onde dezenas de especialistas, das mais diversas áreas – do projeto ao último pormenor – puseram mãos à obra para erguer esta verdadeira peça de arte metálica, a maior ponte pedonal suspensa do mundo.
516 Arouca: os responsáveis pela obra
Câmara Municipal de Arouca
Entidade proprietária da 516 Arouca. Infraestrutura emblemática de engenharia, construída sob a presidência de Margarida Belém e com acompanhamento, supervisão e fiscalização da Divisão de Planeamento e Obras da autarquia.
Itecons
Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade – responsável pela conceção, análise (numérica e experimental), dimensionamento e o apoio técnico durante a construção.
LNEC
Laboratório Nacional de Engenharia Civil – responsável pelos ensaios em túnel de vento e no próprio local para verificar a segurança na utilização da 516 Arouca.
Conduril
Engenharia, S.A. – empresa portuguesa dedicada à execução de Obras de Engenharia Civil e Obras Públicas. Responsável pela construção da ponte. Para o efeito, subcontratou duas empresas parceiras:
Subcontratações:
Cordoaria Oliveira Sá
Responsável pela produção e instalação de todo o sistema de cabos que compõe e que sustenta a ponte.
Outside Works
Especializada em trabalhos verticais, foi a empresa responsável pelos trabalhos em altura na 516 Arouca.
A experiência de fazer parte de um projeto singular
Trabalhar na construção da maior ponte pedonal suspensa do mundo é uma oportunidade única na vida de qualquer profissional e/ou empresa da área. Para registar e partilhar um pouco desta experiência, as entidades envolvidas na concretização desta obra ímpar, e os seus responsáveis, relembraram alguns detalhes marcantes do processo.
Para a Câmara Municipal de Arouca, proprietária e principal responsável pela 516 Arouca, a construção desta obra foi uma oportunidade única e enriquecedora. Um projeto ambicioso carregado de responsabilidade, mas também uma grande honra e orgulho.
Um orgulho igualmente partilhado pela equipa projetista do IteCons, já que a dimensão e complexidade da obra foram um grande desafio.
No caso do LNEC, a oportunidade também foi recebida com entusiasmo e dá destaque à sintonia entre a Câmara de Arouca, a equipa de projetistas e a equipa do LNEC, o que permitiu um desenvolvimento exemplar do trabalho.
Para a Conduril, tudo se resume numa palavra: orgulho.
Uma vez que este foi um projeto singular, nenhum dos envolvidos tinha muita experiência específica neste tipo de trabalho. Já a Oliveira e Sá destacou a união dos intervenientes como um dos pontos mais positivos. Apesar dos desafios e dificuldades com que se depararam no terreno, a entreajuda e a colaboração incondicional foram cruciais.
E a Outside Works diz que foi uma experiência desafiante que se tornou uma referência e que ficará para sempre marcada na memória de todos os alpinistas que lá estiveram, assim como na história da própria empresa.
Os desafios de construir uma ponte pedonal de 516 metros
Sendo uma obra inovadora, e considerando todas a vicissitudes que ocorreram desde o seu início, para a autarquia o maior desafio foi a necessidade de adaptação constante e a conciliação de todas as partes envolvidas.
Na área de competência do LNEC, o grande desafio passou por implementar os ensaios dinâmicos de túnel de vento no modo de deslocamento lateral (em “baloiço”). De acordo com o laboratório, usualmente as pontes suspensas mais sujeitas a ensaios em túnel de vento são rodoviárias, em que os movimentos possíveis não contemplam os deslocamentos laterais.
Adaptar a suspensão do modelo para que pudesse deslocar-se em “baloiço”, mantendo todas as características necessárias, foi o maior dos desafios. Contudo, isso não significa que os ensaios realizados sobre a ponte real tenham sido mais fáceis. Essa fase envolveu um conjunto alargado de instrumentação e um grupo de voluntários que se disponibilizou, segundo procedimentos pré-estabelecidos, para “carregar” a ponte de “sol a sol”.
Antes de o LNEC poder começar a pensar em ensaios, o IteCons teve os seus próprios desafios que tiveram de ser superados para que, posteriormente, pudessem ser feitos os ensaios. Foram muitas horas a desenvolver modelos numéricos, estáticos e dinâmicos, necessários para simular o comportamento da ponte quando sujeita a diversas ações.
Idealizar e concretizar o lançamento dos cabos principais e dos tabuleiros entre as duas margens foi, para a Conduril, o maior de todos os desafios.
Das muitas horas passadas a vários metros do solo, a colocar no sítio cada peça da ponte, a Outside Works somou alguns desafios. O processo para passar a primeira corda foi especialmente marcante. Ter de atravessar o rio Paiva a nado, em pleno inverno, para poder levar a ponta da corda à outra margem, para montar o teleférico que permitiu mecanizar o trabalho e mover cargas de um lado para o outro, foi um dos mais marcantes. Mas houve outros.
Como parte da infraestrutura foi construída sobre os Passadiços do Paiva, o trabalho teve de ser coordenado com a segurança local e a passagem de pessoas teve de ser acompanhada. Mesmo por cima, havia peças em movimento e até ser montado o primeiro tabuleiro muito trabalho foi feito. Com mais ou menos adaptações para ajustar ao método construtivo, a ponte tinha de cumprir todos os critérios de segurança e estabilidade. Isso foi, efetivamente, cumprido.
O impacto deste projeto no
desenvolvimento e dinamização de Arouca
Para a Câmara Municipal de Arouca, tal como acontece com outras grandes obras espalhadas pelo mundo, a ponte suspensa será um projeto de referência, um equipamento diferente e que com certeza, atrairá um público diverso e atenções a outro nível, nomeadamente um público mais técnico que, para além do interesse nas belezas naturais da região, também virá pela curiosidade do projeto e da obra.
O IteCons diz acreditar que a 516 Arouca irá funcionar como os Passadiços do Paiva, que colocaram Arouca no mapa turístico. Desta forma, a ponte pedonal deverá trazer ainda mais visibilidade à região.
Também a Conduril acredita que esta “obra de arte” vai reforçar a dinamização e desenvolvimento de Arouca, atrair inúmeras pessoas e investidores e aumentar o potencial turístico da região.
Já para a Outside Works, a ponte acaba por dar um valor acrescentado à região, a par dos, também pioneiros, Passadiços do Paiva, levando o nome de Arouca ainda mais longe, ajudando o turismo local. A expectativa é grande.
A complexidade da obra da 516 Arouca
Erguer aquela que se tornou a maior ponte pedonal suspensa do mundo, conforme já era expectável, foi um trabalho de enorme complexidade, um projeto bastante ambicioso, para a escala da Câmara arouquense. Contudo, a 516 Arouca será uma referência, não só pela originalidade do projeto, ou pelas especificidades da obra, mas também pela ambição e pela coragem de um município relativamente pequeno conseguir fazer uma ponte extremamente bela e que também é um recorde mundial.
Para a Conduril este projeto foi, sem dúvida alguma, dos projetos mais difíceis e exigentes já realizados pela empresa.
A Oliveira Sá reconhece o elevado nível de complexidade. Porém, relembra um detalhe que poderá passar despercebido a muitos dos utilizadores que irão percorrer a ponte, mas que faz toda a diferença. “Os cabos preparados para a composição da ponte foram feitos a partir de vários fios enrolados à volta de uma alma.
Desta forma, o trabalho ficou coerente com o conceito dos projetistas, que desenharam uma ponte estilo ‘inca’. Ao utilizarem o sistema de vários cordões, reproduziram a técnica das antigas cordas de cânhamo que, entre os séculos XV e XVI, se enrolavam quase manualmente, com o auxílio de um torniquete.”
De acordo com a Outside Works, esta foi uma obra que exigiu uma equipa altamente multidisciplinar, com uma enorme e constante capacidade de adaptação. Um projeto “suado” onde a complexidade foi saber como fazer o trabalho “formiguinha” até completar as perto de 90 toneladas, no meio de um vale, entre dois pilares separados por 516 metros. O que exigiu muito planeamento, preparação e meios.
Há muitas características que tornam a 516 Arouca uma ponte única. No entanto, para o IteCons, não há dúvida que o elemento mais diferenciador é o seu vão, visto ser o maior do mundo.
Porém, também merecem destaque os seus pilares em V, ou A invertido, que resolvem num único par de catenárias o problema das ações verticais e horizontais. A solução não é exclusiva, mas a maior parte das pontes suspensas de grade recorrem antes a cabos horizontais entre a ponte e as margens para fazer o travamento horizontal.
O comprimento da ponte e a paisagem envolvente, alicerçada ao espírito aventureiro que evoca em cada utilizador, são, para a Conduril, os principais elementos diferenciados desta obra de arte.
Para a Outside Works, a 516 Arouca é um ícone de engenharia e construção, um projeto sem precedentes e que desperta um especial interesse, quer por parte da população, quer por parte de profissionais e empresas.
A maior ponte pedonal suspensa do mundo surpreende e fascina. É mais do que uma experiência inesquecível.